Como tornar um bairro mais agradável?

Como tornar um bairro mais agradável?
20/5/2024

Como tornar um bairro mais agradável?

Manual ONU Habitat discute como tornar bairros mais agradáveis de se viver

Lançado no começo do ano pela ONU Habitat, agência da Organização das Nações Unidas (ONU), o guia sobre bairros denominado "My neighborhood" (“Minha vizinhança”, em tradução livre), aborda o desenvolvimento urbano, social, econômico e ambientalmente sustentável. No manual, podemos ver 5 caminhos para tornar os bairros mais agradáveis para morar, com mudanças necessárias para o planejamento urbano local, como: bairros mais resilientes, vibrantes, compactos, inclusivos e conectados.

Desenvolvido pela urbanista Anastasia Ignatova, o guia pretende ser uma base ajustável para diferentes realidades, com indicações que reúne possíveis melhorias melhorias no transporte, habitação, nos espaços públicos e em outros aspectos cotidianos como um bairro ou de uma rua, por exemplo, dispondo-se a um planejamento urbano integrado.

Entre as mudanças defendidas, estão a verticalização, a promoção do uso misto, o desestímulo ao transporte motorizado e a difusão de telhados verdes. A seguir, confira algumas das principais sugestões para cada um dos cinco eixos

Por que tornar um bairro mais compacto? E como?

Bairros compactos são bairros completos. Isto é, têm o essencial a uma curta distância, desde o atendimento em saúde e uma escola até comércios, serviços, moradia e lazer. Em locais como Paris, políticas públicas têm buscado a transformação em uma “cidade de 15 minutos” a pé. O guia é ainda mais ambicioso, pois fala na disponibilidade de parte dos serviços mais básicos há cinco minutos, o que representa cerca de 400 metros de distância.

Para otimizar o acesso a essas facilidades, o guia defende a alta densidade, o que representaria cerca de 150 habitantes por hectare. Essa média indicada é o dobro da registrada na cidade de São Paulo, segundo o IBGE. Internacionalmente, um dos principais exemplos é Barcelona, com 164 moradores por hectare, segundo dados oficiais de 2020. Uma referência na América do Sul é a Cidade Autônoma de Buenos Aires, com 150 moradores por hectare, de acordo com censo argentino de 2022.

“No entanto, os indicadores de densidade podem variar e devem ser cuidadosamente avaliados dependendo do contexto”, pondera a publicação. Conforme o manual, a distribuição dos usos indicada é de 40% a 60% da área voltada ao econômico, de 30% a 50% ao residencial e 10% aos serviços públicos. “Os níveis mais baixos do edifício devem ser reservados para usos comerciais ou serviços públicos”, aponta o guia.

Outro ponto é a divulgação de “ruas completas”, com acessibilidade universal, usos diversificados e infraestrutura para mobilidade a pé e de bicicleta, por exemplo. Isto é, são vias que não priorizam o tráfego por carro. “Alcançar uma cidade compacta implica em criar um espaço urbano eficiente, seguro, confortável e atrativo para todos os seus moradores”, destaca a publicação.

Amsterdam, um exemplo de cidade compacta. Imagem: Eirik Skarstein - Unsplash

Dentre as características de um bairro compacto, estão:

Por que tornar um bairro mais resiliente? E como?

Com o avanço das mudanças climáticas, a adaptação das cidades para chuvas intensas, ondas de calor e outros extremos têm se mostrado ainda mais necessária.

“Os bairros resilientes são menos vulneráveis a mudanças repentinas e sustentam o funcionamento de serviços e sistemas urbanos, que podem ajudar a resistir a qualquer crise potencial e facilitar o processo de recuperação”, diz o guia.

A publicação da ONU Habitat fala em medidas para a redução de vulnerabilidades e rápida resposta em emergências. Nesse contexto, é ainda mais importante que as vizinhanças sejam autossuficientes, especialmente para evitar a escassez de itens básicos. Por isso, defende o uso misto e a alta densidade, dentre outros aspectos já citados nos demais temas.
Além disso, destaca que o planejamento urbano local permite a identificação de pequenas intervenções para tornar os bairros mais resilientes, a partir das características topográficas, de incidência solar e climáticas, por exemplo. Isso envolve desde a drenagem urbana até a construção de edificações mais bem-adaptadas (o que pode reduzir o consumo de energia, por exemplo). Exemplos frequentes neste campo são as “soluções baseadas na natureza”, como os “parques esponja”, com recuos na topografia voltados ao funcionamento, como “piscinões” naturais nos períodos de chuva intensa, diminuindo alagamentos no entorno. Esse tipo de espaço ganhou expressão principalmente após experiências em cidades da China, como Shenzhen e Pequim.

Grécia, um exemplo de cidade resiliente. Imagem: Constantinos Kollias - Unsplash

Dentre as características de um bairro resiliente, estão:

Por que tornar um bairro mais conectado? E como?

O guia explica que o “ambiente urbano da cidade conectada considera as ruas como espaços públicos abertos, vibrantes, seguros, atraentes e acessíveis”. Isto é, a mobilidade urbana é pensada em conjunto, a fim de otimizar os deslocamentos não motorizados e desestimular o uso do carro. Para tanto, indica-se que cerca 30% das áreas públicas destinadas ao tráfego sejam voltadas à circulação e parada de pedestres e ciclistas, por exemplo. Além disso, há a indicação de que a velocidade dos automóveis seja reduzida para 30 km/h.

Essa limitação de velocidade envolve políticas de “traffic calming”. Zonas com tráfego a 30 km/h têm crescido na Europa, com ampla difusão em metrópoles e cidades médias, como Londres, Bruxelas e, mais recentemente, Bolonha, na Itália, dentre outras.

“É importante que os percursos para deslocamentos a pé, de bicicleta e em transporte público estejam claramente definidos. A hierarquia geral deve dar prioridade aos modos de transporte sustentáveis (‘hierarquia verde’) e incluir rotas arteriais e ruas locais com base nas diferenças de velocidade do tráfego”, salienta a publicação da ONU Habitat.
Curitiba, um exemplo de cidade conectada. Imagem: Rodrigo Kugnharski - Unsplash

Características de um bairro conectado:

Por que tornar um bairro mais ‘vibrante’? E como?

Vizinhanças vibrantes são aquelas em que há uma ampla gama de atividades, oportunidades e serviços. “Um ambiente urbano vibrante forma a identidade do lugar, facilita a interação social, a comunicação, as atividades físicas e a aprendizagem e atrai as pessoas a viver, trabalhar e passar tempo”, explica o manual da ONU Habitat. O material também defende uma multiplicidade de propostas na arquitetura, no design e nos usos dos espaços, assim como opções de diversos portes e características. “A diversidade de parcelas e lotes promove uma grande diversidade de tecido urbano e formas arquitetônicas necessárias para criar uma paisagem urbana vibrante”, destaca.

Além do já citado exemplo de Paris, outra capital que tem chamado a atenção com ações contra a gentrificação há anos é Viena. A capital austríaca tem milhares de apartamentos de propriedade municipal, alugados para moradores a partir dos 17 anos. Ao longo do guia, diversos aspectos aparecem em mais de um dos cinco eixos temáticos. No caso das cidades vibrantes, por exemplo, o manual volta a defender o uso misto, os espaços públicos qualificados e a diversidade populacional, dentre outros pontos. Nesse aspecto, é importante considerar técnicas e materiais ideais para a realidade climática e necessidades locais. “Para facilitar a vitalidade do ambiente construído e das comunidades, deve ser apoiado um certo grau de densidade urbana”, salienta a publicação.

“O desenvolvimento vertical de uso misto facilita a ativação da borda da rua por meio de usos comerciais e de varejo no térreo, ao mesmo tempo que proporciona fácil acesso a oportunidades de emprego locais, promovendo a facilidade de locomoção, garantindo melhor segurança e enfatizando a identidade local por meio de pequenas empresas e elementos de design”, justifica.
São Paulo, um exemplo de cidade vibrante. Imagem: Renan Caraujo - Unsplash

Dentre as características de um bairro vibrante, estão:

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