INNOVATION

Inovação aberta no Brasil

10.10.2025

O conceito de Open Innovation (Inovação Aberta) foi criado por Henry Chesbrough, professor e pesquisador da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ele foi apresentado pela primeira vez em 2003, no livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology”, de autoria do pesquisador.

O contexto da criação

Para compreender o impacto desse termo, é importante olhar para o contexto histórico do início dos anos 2000. Segundo o relatório OECD Information Technology Outlook 2010, o período foi marcado por profundas transformações nos modos de produção, nos modelos de negócio, nas tecnologias e nas relações entre empresas, governos e instituições de pesquisa.

O avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) impulsionou o acesso à internet, o uso de telefones celulares e a criação de redes de dados, fatores que mudaram radicalmente a dinâmica econômica global.

Outro evento emblemático foi a chamada bolha das “pontocom”, também conhecida como bolha da internet. De acordo com dados da Nasdaq, o final da década de 1990 foi marcado por uma forte valorização das ações de empresas de tecnologia nos Estados Unidos, impulsionada pelo surgimento de inúmeras startups do setor. No início dos anos 2000, a escassez de investimentos e a falta de rentabilidade levaram ao estouro da bolha, resultando em desvalorizações superiores a 80% no valor de mercado de muitas dessas companhias.

Foi nesse ambiente de crise e reestruturação que Henry Chesbrough apresentou a proposta de inovação aberta, inaugurando um novo modelo de colaboração entre empresas e agentes externos, base do que hoje conhecemos como ecossistemas de inovação, materializados em hubs, parques tecnológicos e programas de aceleração de startups.

“Inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimento intencionais para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para uso externo da inovação.” (Henry Chesbrough, 2003)

Inovação Aberta vs Inovação Fechada?

Ao contrário do que muitos pensam, a inovação aberta não é o oposto da inovação fechada. Segundo Chesbrough, ela representa uma evolução do modelo tradicional de inovação, e não uma ruptura. Na inovação fechada, as empresas controlam todo o processo, desde a geração da ideia até sua comercialização. Já a inovação aberta propõe ampliar as fontes de conhecimento e colaboração, reconhecendo que boas ideias podem surgir tanto de dentro quanto de fora das organizações.

Ela (a inovação aberta) derruba fronteiras internas e externas, deslocando a empresa de uma lógica hierárquica para uma lógica de rede. Quando times passam a trabalhar com startups, universidades ou outros parceiros, a mentalidade muda: colaboração substitui competição, vulnerabilidade vira ativo e aprender com o outro se torna parte do DNA.”, ressalta Bruno Erlinger, Head of Open Innovation do STATE - centro de inovação independente voltado para soluções urbanas.

Nesse modelo, a inovação aberta não reduz a importância dos ativos internos, mas amplia o horizonte de possibilidades. Universidades, startups, centros de pesquisa e até mesmo concorrentes passam a ser vistos como parceiros estratégicos.

Inovação Fechada (Closed Innovation)

- A inovação acontece internamente à empresa, com recursos próprios;

- O processo é centralizado em departamentos de P&D (pesquisa e desenvolvimento);

- Os conhecimentos e tecnologias são propriedade exclusiva da empresa;

- Há foco em segredo industrial e proteção intelectual;

- O tempo de desenvolvimento é mais longo;;

- O risco e o custo são totalmente assumidos pela organização.

Inovação Aberta (Open Innovation)

- A empresa colabora com startups, universidades, centros de pesquisa e até concorrentes;

- O conhecimento flui de dentro para fora e de fora para dentro da organização;

- O processo de inovação é acelerado e os custos são reduzidos;;

- São incentivadas parcerias estratégicas e práticas de cocriação;;

- Há estímulo ao licenciamento de tecnologias e modelos de negócio compartilhados;

- A empresa ganha agilidade para responder ao mercado e à concorrência..

Fonte: Chesbrough, H. W. (2003). Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology. Harvard Business School Press.

Ainda de acordo com Erlinger, “Ela (a Inovação Aberta) traz velocidade ao acessar soluções já validadas, relevância por conectar a empresa ao que está pulsando no mercado e escala ao permitir que a inovação não dependa só dos recursos internos. Em vez de reinventar a roda, a empresa se conecta a quem já está girando ela — e ganha tempo, eficiência e vantagem competitiva.”

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O cenário de Inovação Aberta no Brasil

De acordo com o Ranking 100 Open Startups 2024, o número de negócios em inovação aberta cresceu 69% em relação ao ano anterior, passando de R$ 64 bilhões para R$ 108 bilhões. O levantamento também mostra que foram registrados 62.216 relacionamentos entre startups e corporações, número que cresce de forma consistente desde 2019.

Ainda segundo o ranking, 88% das empresas brasileiras já desenvolvem ações de open innovation, 76% realizam investimentos com recursos próprios e 62,5% mantêm programas de intraempreendedorismo.

“As barreiras (para implementar Inovação Aberta) são menos técnicas e mais culturais. O medo de perder controle, a burocracia excessiva e a crença na autossuficiência travam movimentos ousados. No fim, o que pesa é a dificuldade de abrir mão do ego corporativo para ganhar futuro. É preciso maturidade para entender que abrir não é perder, é multiplicar.” conclui o Head of Open Innovation do STATE.

De acordo com o estudo Softex 2022, os principais parceiros das empresas em modelos de inovação aberta são startups e corporações (87,2%), seguidas por universidades (76,9%), centros de pesquisa (64,1%) e hubs de inovação (64,1%). O levantamento também indica que as Provas de Conceito (PoCs) são o formato mais utilizado de relacionamento, presentes em mais de 90% das iniciativas.

Além das parcerias com agentes externos, 62,5% das empresas contam com programas de intraempreendedorismo, mostrando uma preocupação em alinhar inovação interna com colaboração externa.

O modelo brasileiro de inovação aberta está evoluindo também para formatos mais sofisticados, como:

- Corporate Venture Capital (CVC): investimento direto de empresas em startups.

- Venture Building Corporativo: criação de startups internas alinhadas aos objetivos estratégicos.

- Participação em hubs e ecossistemas de inovação: ambientes de experimentação e cocriação.

- Fusões e aquisições orientadas por inovação: como forma de absorver tecnologias e competências.

Esses dados reforçam que a inovação aberta vem se consolidando como estratégia essencial para competitividade e sustentabilidade empresarial.

De tendência a estratégia corporativa

O movimento crescente da inovação aberta no Brasil evidencia uma mudança de mentalidade dentro das organizações. Empresas de diversos setores passaram a enxergar a colaboração como um fator decisivo para a transformação digital, a competitividade e o crescimento sustentável.

Mais do que um conceito teórico, a inovação aberta tornou-se uma prática que redefine o papel das corporações na economia contemporânea: abrir-se para o novo não é perder o controle, é multiplicar possibilidades, acelerar resultados e construir o futuro de forma colaborativa.

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