Pets no trabalho

Pets no trabalho
3/6/2023

Pets no trabalho

Os animais são treinados a observar constantemente os sinais não verbais de desconforto, gerando compaixão com as pessoas ao redor

Desenvolvimento de empatia e atenção a sinais de desconfortos são apenas uns dos benefícios de ter pets no ambiente de trabalho, segundo um estudo da Universidade Nacional de Singapura (NUS), divulgado em 2022 pelo periódico inglês, The Straits Times.

"É uma mudança de comportamento que está ocorrendo na sociedade, antigamente o lugar de pet, seja ele gato, cachorro ou outro animal, era no quintal apartado das pessoas da família, hoje eles, (os pets), ocupam um espaço próprio nos lares".

É o que afirma César Sanches, 28, tutor da Mabel, 4, e líder de experiência do STATE - centro de inovação independente focado em cidades. Para Sanches, essa mudança de comportamento, "especialmente no ambiente de trabalho", ajuda não só a reduzir a preocupação do tutor com o seu pet, mas também alegra e traz "fofura" para a rotina no escritório.

Ainda conforme o estudo feito pela NUS, os animais são treinados a observar constantemente os sinais não verbais de desconforto, gerando compaixão com as pessoas ao redor, e esse sentimento é curiosamente transferido para os colegas de trabalho, em convivência compartilhada. A pesquisa analisou as emoções de cerca de 370 pessoas, entre funcionários do zoológico de Singapura e de organizações com espaços pet-friendly, nos Estados Unidos, por dois anos, mostrando que a ligação com os animais em ambientes profissionais pode trazer benefícios como: redução do estresse por meio da interação com o animal de estimação - que baixa o nível de cortisol (o hormônio do estresse) no organismo.

A análise mostrou, também, que ao acariciar um animal nosso organismo libera dopamina e serotonina, causando uma sensação de bem-estar. O exame ressalta a melhora no humor das pessoas que sofrem de problemas emocionais, por meio de momentos de alegria e diversão - melhorando também a saúde cardiovascular - pois a companhia dos animais ajuda na redução dos fatores associados ao aumento do risco dessas enfermidades.

A prática, de levar seu animal para o escritório ainda é nova no Brasil, e é inspirada em experiências vindas de fora. Nos Estados Unidos, por exemplo, muitas empresas são pet-friendly: nelas, os animais de estimação estão presentes todos os dias ou em dias específicos. Essa é uma tendência ampliada durante a pandemia de covid-19, quando muitas pessoas passaram a trabalhar em casa (home office) e a presença dos animais de estimação ajudou a reduzir o estresse e a ansiedade durante esse período de incertezas e mudanças significativas.

Para Marina de Oliveira Barboza, 31, head de inovação na Ingenico e tutora do Fantasma,3, o período de confinamento na companhia de seu pet, que chegou alguns meses antes da pandemia mundial da covid-19, trouxe momentos de relaxamento e um pouco de liberdade durante os passeios solitários. "Ficamos muito apegados um ao outro", afirma Marina, que com o fim da pandemia procura estar na companhia do seu pet em espaços pet-friendly.

Adoção de pets durante a pandemia impulsiona mercado

A economia global de animais de estimação deverá atingir quase meio trilhão de dólares até 2030, um aumento de 54% em relação aos dias atuais, segundo a projeção mundial da plataforma independente de pesquisa Bloomberg Intelligence. Isso colocaria o negócio de animais de estimação em pé de igualdade com setores mais futuristas e chamativos como: segurança cibernética e tecnologia financeira. Os produtos para animais de estimação também se tornam relevantes na área de exportação. De 2020 para 2021, as vendas ao exterior cresceram 33%, impulsionadas principalmente pelo pet food (95%). Ao todo foram exportados US$ 412,5 milhões.

Brasil é o terceiro país com mais pets, setor fatura R$ 52 bilhões

Com 149,6 milhões de animais de estimação, segundo o censo do IPB (Instituto Pet Brasil) de 2021, o Brasil é o terceiro país em número de animais domésticos. Considerando os 215 milhões de brasileiros, pelo menos 70% da população tem um pet em casa ou conhece alguém que tenha. A preferência do país é pelos cachorros: 58% das casas têm cães, 28% têm gatos, 7% têm peixes e 11% têm aves, segundo a consultoria alemã GFK, que levantou dados de 22 países para descobrir a distribuição dos animais em cada local. A média mundial indica que 33% dos lares têm cães, 23% têm gatos, 12% têm peixes e 6% têm aves.

Em 2021, o faturamento do mercado de animais de estimação brasileiro cresceu 27% na comparação anual, para R$ 51,7 bilhões. Desde 2019, ano anterior à pandemia, o faturamento do mercado de pets cresceu 46,45%. Isso porque, 30% dos cães, gatos e outros bichos de estimação do Brasil foram adotados durante o período pandêmico, segundo o Radar Pet 2021 do Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal).

Com um número maior de “pais de pets”, o mercado em volta desse universo se aqueceu e viu a entrada de novos negócios. O setor de pet shops, por exemplo, aumentou 33% nos últimos dois anos com a abertura de 18.278 novas lojas, informa o Sebrae. "A Mabel, veio de uma ONG - Vira-Lata é Dez, que possui um centro de adoção na Cobasi do Villa Lobos - ela chegou durante a pandemia, a gente (Dimas e eu - meu companheiro), estávamos procurando um pet para adotar no alto período de confinamento (maio de 2020)", recorda, Sanches. O botânico, Dimas Marchi Do Carmo, 33, relembra a adoção, "estávamos nos relacionando há cerca de 1 ano e em confinamento, quando decidimos adotar, quem mais queria a Mabel era o César, que estava há 20 anos sem ter cachorro". Segundo Carmo, durante o encontro com a Mabel, ela estava um pouco com medo e primeiro pulou no em seu colo e depois mordeu o César. Hoje, Carmo afirma: "Ter uma vida boa e leve na companhia de Mabel e Sanches".

Flexibilidade nos ambientes de trabalho

"O movimento dos pets em ambientes de trabalho é um novo formato que veio após o confinamento. Nos últimos 20 e 30 anos, mudou muito a posição do animal na sociedade, antigamente o cachorro era um cachorro, hoje em dia ele é um pet", informa Jorge Pacheco, 42, fundador e CEO do STATE, pai de dois filhos e tutor de Muca, 11.

"Antigamente, o animal costumava dormir no pátio, hoje esse cenário mudou, muitos tutores dormem com seus pets em suas camas, algo que não acontece em casa, por exemplo, apesar da Muca dormir dentro de casa, no andar de baixo". Para Pacheco, esse comportamento social mostra como a cultura do Brasil mudou, "Hoje o país é um dos maiores com número de pets, então eu acho que algumas coisas devem ser adaptadas para as pessoas se sentirem tranquilas, como no ambiente de trabalho", ressalta o empresário.

"Ter animais de estimação no ambiente de trabalho pode trazer diversos benefícios, como, por exemplo, a redução do estresse. Duvido alguém ficar estressado com um pet ao lado para acariciar. Além disso, ter animais perambulando pelo nosso campus, faz do STATE um ambiente mais amigável e acolhedor".

É o que afirma Renata Torres, líder de comunidade do centro de inovação.

Para a community manager, ter os pets em ambientes de trabalho promove a interação entre os residentes - uma vez que todo mundo para para interagir com o animal e acaba conhecendo uma pessoa nova.

Já a residente Marina Barboza, pensa que a possibilidade de trazer seu pet para o ambiente de trabalho é um jeito de reduzir a solidão do animal, compartilhando a companhia do mesmo com as pessoas aos redor: "elas ficam mais felizes trabalhando", afirma a head de inovação da Ingenico.

Pet no STATE

O STATE tem uma parceria com a Woof - plataforma e ecossistema voltada para o mundo pet, que combina a tecnologia e a comunidade - com mais de 7 mil pet shops parceiros na ponte área São Paulo - Rio de Janeiro, para os tutores.

"Ter os pets no ambiente de trabalho é uma coisa muito legal, acredito que os tutores gostam bastante de trazer seu bichinho - que é bem-vindo aqui no campus, obviamente, seguindo as práticas de boas maneiras para o convívio social", diz Pacheco.

Já para a diretora do projeto Tomorrowland Brasil e tutora do Theo, 7 anos, Andrea Galasso, trabalhar no campus é "Ótimo, ele (Theo), interage com as pessoas e fica pertinho". Questionada sobre a sobre a inclusão de pets no ambiente de trabalho, Andrea finaliza: "complicado não poder entrar com ele em lugares comerciais, que a rigor não teriam porque ter restrição".

*Colaborou: Clarice Santana

STATE journal

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