Paternidade em xeque

Paternidade em xeque
11/8/2023

Paternidade em xeque

Percentual de crianças registradas com “pai ausente” passou de 5,5% em 2018 para 6,9% em 2023

Criar um filho para o mundo é uma tarefa tão árdua, cheia de alegrias na vida dos pais e mães, que deveria ser igualitária para ambos os responsáveis da criança, mas infelizmente, essa igualdade continua longe de acontecer, apesar das recentes discussões no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta semana, a ministra Rosa Weber, presidente do STF, pediu vista dos autos do julgamento sobre a falta de regulamentação da licença-paternidade, medida que promove a igualdade de gênero e incentiva a participação dos pais na criação e cuidado dos filhos. Até o pedido de vista de Rosa, o julgamento já contava com seis votos e quatro entendimentos distintos. Enquanto a decisão sobre o tema, abordado pela primeira vez em 1988, não sai, a gente conversou com alguns pais para saber como é a rotina de cuidados com seus filhos e equilíbrio com a vida profissional e social.

"Apesar de ser divorciado da mãe dos meus filhos e eles morarem com ela, vejo eles todos os dias e faço parte da rotina da família. Tem dias que busco na escola, outros dias eu levo, alguns dias da semana dormem na minha casa, vamos a parques, praças, cozinhamos juntos, desenhamos, brincamos de lego, lemos histórias e jogamos games cooperativos de computador juntos (max. 30 min de tela)", conta Jorge Pacheco, 42, pai de 2 duas crianças, 6 e 2 anos, fundador e CEO do STATE.

A postura do empresário que vive a rotina familiar com seus filhos pode ser tida como atípica no cenário atual, onde o percentual de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento vem crescendo a cada ano no Brasil. E, segundo pesquisadores que acompanham o tema de perto, este é um problema que deve ser tratado como prioridade. Segundo os dados da Arpen (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais) o percentual de crianças registradas com “pai ausente” passou de 5,5% em 2018 para 6,9% em 2023 (considerando o período até 6 de junho). Neste intervalo, todos os anos registraram um crescimento em relação aos 12 meses anteriores. O número absoluto de bebês nessa situação tem crescido mesmo com a redução no total de partos. Entre 2018 e 2022, o número total de nascimentos no Brasil caiu de cerca de 2,85 milhões para 2,59 milhões.

Ainda assim, o número de recém-nascidos sem o nome do pai na certidão passou de 157,5 mil para 164,6 mil. Em 2013, um artigo publicado por pesquisadores das universidades de Princeton, Cornell e Berkeley, nos Estados Unidos, analisou 47 estudos, feitos em diferentes países, a respeito das consequências da ausência paterna. A conclusão deles é clara: “Nós encontramos sólidas evidências de que a ausência paterna afeta negativamente o desenvolvimento socioemocional das crianças”. Eles explicam que essa correlação é ainda mais intensa quando o abandono paterno se dá no início da infância. Além disso, os efeitos são mais visíveis sobre os meninos do que sobre as meninas.

Questionado sobre a igualdade de gênero, o fundador e CEO da Umbrella - residente do STATE - Luke Martins, relata sobre sua rotina:

"Nos dias da semana tento ficar com minha filha 2 períodos, no começo da manhã e no final do dia. Aos finais de semana, fico o tempo todo".

Apesar de não estar mergulhado nas decisões atuais do STF, Martins é claro: - "Homens não têm muito tempo de licença paternidade, torço para ampliarem".‍

Foto de charlesdeluvio na Unsplash

Os estados da região Norte são, em média, os que têm o maior percentual de certidões de nascimento sem a identificação do pai. Dos seis primeiros na lista, cinco são de lá: Amapá (13%), Acre (12%), Amazonas (10,7%), Roraima (10,3%) e Pará (8,4%). Segundo colocado, o Maranhão (11,6%) completa a lista. Na outra ponta, com o menor índice, estão Rio Grande do Sul (4,7%), Paraná (4,5%), Rio Grande do Norte (4,5%), Minas Gerais (4,3%) e Santa Catarina (4,1%).

Para José Rogério Teixeira, líder de manutenção da empresa Temon Serviços, pai de um rapaz de 27 anos, a experiência da paternidade não pode ser desperdiçada. "Minha rotina como pai, logicamente, era intensa quando ele era pequeno, mas agora é mais com bem-estar dele, pois ele mora em outro país. Geralmente nos falamos toda semana, pelo menos uma vez. Quando ele era pequeno, minha rotina era sempre de levá-lo à escola, jogos, atividades físicas e em passeios. Durante as minhas férias sempre estava presente no dia a dia dele", conta Teixeira.

A presença de uma figura paterna é muito importante para o desenvolvimento do indivíduo. Mas esse entendimento do que é ser pai, de fato, e das funções que cada um exerce na criação dos filhos, passou por muitas modificações ao longo dos anos. Independente das formas de parentalidade, especialistas ressaltam que a função paterna é fundamental para que os filhos aprendam e vivenciem um modelo de família e de um mundo mais ético, congruente e saudável.

"Sempre que possível procuramos fazer todo o deslocamento de bicicleta. As crianças adoram e vamos de bicicleta para a escola, minha casa, casa da mãe, etc. Tenho duas cadeirinhas e o menor vai à frente e o maior atrás. Procuro aproveitar ao máximo este momento, pois logo eles estarão grandes e não caberão mais na bike", conclui Pacheco.

STATE journal

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